Há cerca de 30 anos, Hosni Mubarack tem sido o presidente do Egito. Aliado dos Estados Unidos, foi fundamental para aquele país na Guerra do Golfo.
Com os recentes protestos que assolam o país árabe, Barack Obama ficou numa posição delicada: com sua popularidade em baixa e a crise interna, não pode se comprometer apioando um governo nefasto em queda. Mas também não pode abrir mão do Egito, correndo o risco de subir ao poder um novo governo que não se coadune com a política norte-americana. Como os religiosos.
Por aqui, Dilma já disse que o Brasil não pode ter opinião sobre tudo, declarando apenas que torce para que o Egito possa ter um governo democrático, enquanto a Revista Veja estampa na capa seu temor de que o país seja tomado pelos radicais, amparada no que aconteceu no Irã.
Rafael Knabben, do blog Pólo Oeste, oferece a resposta:
“(20:18) Suspeito que esse medo relativamente exagerado provenha da péssima experiência do ocidente com os movimentos políticos islâmicos em geral e pelo que aconteceu no Irã. A partir de então, qualquer tentativa de democratização não guiada no Oriente Médio se tornou suspeita, senão inimiga. E o Egito está sendo exemplo disso.
É notável e perturbador como o posicionamento de políticos e líderes de países que se dizem livres e democráticos têm sido obscuros e preconceituosos. Principalmente quando o resultado disso é a permanência de um ditador no poder. Mesmo que ele continue lá para efetuar uma “transição ordenada” para a democracia com grupos oposicionistas.
É muita ingenuidade ou cinismo acreditar que um processo desse tipo, conduzido através do aparato político de um regime autoritário, vá levar a uma redemocratização de fato.
(19:58) Existe um medo considerável de várias parte que o Egito do futuro seja um novo Irã. E alguns chegam a dar isso como certo. Apesar de haver a possibilidade de a Irmandade Islâmica encabeçar algum governo e se aproveitar disso pra se reproduzir no poder (ou de trair a revolução como os aiatolás), isso está longe de ser algo certo.
O que não se tem relevado, primeiro, é a força do exército no Egito. Seja pelo seu poder físico como pelo apelo que tem junto a muitos setores da população do Egito, ele é muito provavelmente a instituição mais poderosa do Egito.
Já a Irmandade Islâmica, ela também tem grande apelo com a população, principalmente com os mais pobres (a grande maioria do país). A organização possui vários trabalhos sociais e usa a entrada que a religião dá. Mas, ainda assim, ela é limitada no que tange ao apoio militar e de várias outras classes egípcias. Nas eleições de 2005, 20% dos eleitos eram ligados a ela. É bastante, se levarmos em conta que com certeza esse número foi maior e manipulado pelo regime de Mubarak, mas não o bastante para varrer o país num segundo momento revolucionário como os aiatolás iranianos.
Ou seja, se for para temer que alguma instituição vá destruir o processo de democratização no Egito, é melhor pensar no Exército”.
Acompanhe a cobertura completa de Knabben sobre os protestos no Egito:
http://polooeste.wordpress.com/