Decorando com livros

Lindevania Martins

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De tempos em tempos, faço uma faxina nos meus livros, um pouco à moda de Dom Rigoberto, personagem de Mario Vargas Llosa: para evitar que eu acumule livros demais, e principalmente, para evitar que aqueles livros que não fizeram/fazem a diferença ocupem o espaço que deve ser destinado a leituras essenciais, retiro os menos importantes.

Essa seleção é bastante pessoal e entre os livros que “fazem a diferença” incluo alguns terríveis, muito mal escritos, que merecem estar na minha cabeceira para sempre  – justamente para  lembrar do que nunca se deve fazer.

Numa dessas etapas de “limpeza”, uma pessoa que gosto muito pediu que lhe desse os livros que eu descartaria: “Oh, querida.  Você pode me dar os livros que não quer mais? Preciso de livros para enfeitar minha sala!”.

Fiquei bem surpresa com a proposta.  Eu nunca havia pensando que livros pudessem servir apenas para enfeitar espaços. Ou que alguém pudesse fazer uma proposta semelhante a sério.

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Na realidade, não deveria ter ficado tão surpresa. É comum que se veja livros meticulosamente desordenados pelo chão, empilhados em estantes tão altas que dificulte qualquer acesso, em mesinhas de sala de estar,  tanto em fotografias de revistas de decoração quanto em folhetos publicitários de lojas de móveis; livros de arte cujas páginas  nunca serão abertas enfeitando consultórios médicos ou casas de famílias respeitadas, etc., numa construção que os esvazia de seu conteúdo e os transforma em pobres  objetos decorativos.

Dessa forma, se constrói no imaginário popular que é elegante possuir livros, mesmo que estes nunca venham a ser lidos. E  se põe na estante o mais novo bibelô.