E tudo se copia…

Na década de 60, o francês  Roland Barthes publicou um texto em que acabava com a ideia de autoria e originalidade. Em “A Morte do Autor”, declara que um  texto é sempre um tecido de citações e que  o único poder do escritor é o de misturar as escritas : ele acaba por ser o imitador de um gesto sempre anterior e nunca original.   Entre outros motivos, porque usa um dicionário composto por outros.

Os que vêm depois se utilizam das ideias e construções dos que vieram antes. O que seria dos filmes de zumbi sem George Romero? De George Romero sem as lendas populares sobre zumbis? De Lady Gaga sem Madonna? De Madonna sem Marylin Monroe? De Kill Bill sem Bruce Lee? Até parece que a arte imita a natureza, onde “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, segundo Lavoisier.

É nesse espírito, “Nada se cria, tudo se copia”, como diria minha avó, sem se importar com quem inventou a frase, que Kirby Ferguson lançou o documentário “Everything Is A Remix”, dividido em duas partes.

Na primeira parte,  que pode ser assistida na abertura do presente artigo,  Ferguson usa  os trabalhos de William Burroughs, que teria criado o termo ” heavy metal”,  e Led Zeppelin, cujas composições teriam muito a dever a vários outros artistas, para defender sua ideia de que tudo que existe é recombinação  ou edição de material já anteriormente existente. E  ressalta: “Remixar é arte popular. Qualquer um pode fazê-lo”, emendando que essas técnicas: coleta de material, combinação e transformação, são as mesmas usadas em qualquer nível de criação.

Focado em música, o documentário efetua várias comparações, acompanhando o Led Zeppelin – que teria copiado muitos materiais sem modificar suficientemente seu conteúdo para poder alegar que eram seus e sem atribuir as composições aos autores originais.

A segunda parte do filme, que pode ser assistida acima, foi lançada agora no começo de fevereiro. Se a primeira se concentra em música, a segunda parte se concentra no cinema. O documentário afirma que 74% das produções de Hollywood são refilmagens ou adaptações de livros, histórias em quadrinhos, jogos de vídeo game, etc., transformando o velho em novo. E até arrisca possíveis motivos: porque filmes são muito caros de fazer e seria mais barato realizar remakes ou adaptações;  porque quadrinhos, jogos, livros, etc. constituem uma rica fonte de material; porque o público prefere o que lhe é familiar.

Dando especial atenção a Star Wars, afirma que  sua estrutura pode ser encontrada no livro “O Herói de Mil Faces”, de Joseph Campell. Entre suas múltiplas influências, aponta os seriados de Flash Gordon dos anos trinta; os mestres espirituais das artes marciais inspirados em Akira Kurosawa; cenas semelhantes a outras que podem ser vistas em  “O Bom , O  Feio e o Ruim”, de Sergio Leone, “Metrópolis”  de Fritz Lang, entre outros.

Como mostra o documentário, não se pode criar algo do nada. Criação necessita de influência.

Acesse aqui a versão legendada em português da primeira parte do filme.